25 de dezembro de 2013

Divã no espelho

Uma vez rabisquei umas elucidaçõezinhas num papel de presente, de um livro que ganhei. Uma dessas coisas que escrevi, dizia que a tristeza seria um "cansaço poético". Ainda não consigo explicar bem a sensação. É péssimo se debater por dentro, e não conseguir se arrepiar com coisas bonitas, do lado de fora. De uma maneira bem irônica, quando ando triste, as pessoas procuram por minhas palavras. E aí vem a "melhor" parte, elas somem.

Procurar por um par de meias, é tão simples quanto ir à cômoda e puxar uma gaveta, ou enfiar a mão nos buracos dos sapatos. Jogar o caça-palavras da poesia, e conseguir circular as melhores letras, os melhores sons, e seguir os próprios sentidos, prevendo os outros que serão disparados na hora da leitura, e da releitura com mais atenção, é o que, de mais difícil, consigo fazer. Mas não sei explicar bem o quão cativo acabei me tornando das palavras. Às vezes, elas pulam nos meus dedos e minhas mãos viram marionetes. Noutras vezes, elas mesmo formam uma mãozinha, dando tchau distante, e me deixando com saudade.

Não vivi, ainda, no meu estreito conhecimento das letras, coisa mais cansativa do que querer escrever sentimentos, e estar "fraco", no entanto, para isso. É essa a minha tristeza, o tal cansaço poético. A asma das letras, tendo à frente um mundo, de ar puro de palavras, em suspensão.

Até hoje, postei centenas de poemas e pensamentos, alguns sonhos, outras paixões, e aquelas de que nunca esqueço. Construí algum estilo e fiz tantos croquis de textos que perdi as contas, quando chegaram aos milhares. Me sinto mais forte do que antes, e com fome de garoto, que está aprendendo a ler. Já consigo puxar uns poemas, que antes não conseguia. Estou tentado a aproximar as dimensões, e tornar o estrato da poesia cada vez mais próximo, se ela não resolver me sugar completamente, para o outro lado. É essa a minha alegria: ser passaporte de poesia.



Retrátil


Ainda que não me caibam
Quaisquer argumentos
Que o mundo falou ao céu

Deixo nas linhas
Todo sentimento
Que só cabe no papel

2 comentários:

  1. Tanta riqueza neste texto ... Traz a força e a agonia das palavras que ora brotam, somem e se transformam dentro de ti, assim como a simplicidade que amo, do olhar atento ao que ninguém parece perceber, revelando lindamente o comum... “enfiar a mão nos buracos dos sapatos”. Gostei disso!

    Acho que consigo entender um tantinho desse seu “cansaço poético”... o teu querer é tão grande e tão bonito, será que conseguirá colocar toda essa beleza do teu mundo no papel? Consegue sim, e numa perfeição que é fácil sentir. Encanta! Ah, gostei disso também: “A asma das letras, tendo à frente um mundo, de ar puro de palavras, em suspensão.” Muito poético! (risos)

    Meu poeta, você quando escreve, me salva de todos os males! Me revigora, me traz o ar, o pulsar que busco na vida, todos os dias, aquela sensação de estar mais viva... tua poesia pra mim são fitas coloridas de cetim, são águas de lavanda, sorriso de criança, abraço sem ter fim... sim, por elas tenho paixão... de uma forma que não sei bem explicar, só sei sentir. Apenas deixo as tuas palavras brincar, bailar com meus sentidos...

    Você sabe o quanto eu as amo! O quanto vou esperá-las! E claro, o quanto vou pedí-las, implorá-las! (risos)

    “Deixo nas linhas
    Todo sentimento
    Que só cabe no papel”

    Obrigada querido espelho!

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  2. Quanta emoção nesta breve biografia, a cada releitura é um novo aprendizado... Sinto me privilegiada em ter um amigo tão culto e poeta! Cara isso é algo de se vangloriar, haha. Quem gosta de suas poesias, seus trechos, elucidações ou rabisco, não perde a expectativa de esperar o tempo que for pra vê novamente o que escreve, só proíbo que pare eternamente. Ainda bem que sei que isto é impossível!!! Bom, como já disse ultimamente não estou boa pra deixar comentários, o que posso afirmar é que os apaixonados por poesia vibram e se emociona com este texto!
    Parabéns!

    ps. deu trabalho mas, conseguir deixar meu recadinho!!

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