7 de abril de 2015

Miragem

O deserto só é quente de dia
À noite, quando se agiganta
Nem mesmo o clarão do sol
Rei sobre os mais solitários
Lhe quer fazer companhia

As palmeiras se descansam
E fofocam silenciosamente

Sobre os forasteiros juvenis
Que se perdem em cada um
Dos desertos que se lançam
Aos oásis secretos à frente

Ou quem sabe já passados!

Que lambuja têm os corajosos
Ainda que em terra tão seca
Encontraram uma torrente!

5 de abril de 2015

Correnteza

Estive por entre nossos olhos
Em um piscar que me custou
Uma vida inteira de certezas

Memórias que um dia compus
E me dobraram eternamente
Num mix de dor e delicadezas

E...

Estive por entre outros olhos
Aquele olhar de sereia minguante
Que sempre verei na correnteza

Sem memórias e lar a cantar
Por ter deixado o rio secar...
Maldita injustiça da natureza!

21 de janeiro de 2014

Sobre seu gosto musical

Adoro esse seu gosto musical...
O sabor de música boa e arrepio
Que gruda no teto da minha boca
Quando nos escutamos horas a fio!


Poeticografado

Quando a poesia me contara
Que não se dava tão bem com o amor
E preferia a música e o álcool
Eu engasguei por duas vezes seguidas...

A primeira, um gole mais branda
Tinha o gosto seco de dúvida
E não queria me deixar acreditar
Que eu estaria a tanto enganado

A segunda foi que me arrebentou
Embrulhando os bofes num laço
Fez questão de repetir, poderosa:
- o amor e a poesia são um caso empoeirado!

13 de janeiro de 2014

Árvore devida

Quando eu era ainda um pouco mais velho
A senhorita me fez tão boa companhia
E se mantinha do jeitinho que mais nova
Sem perder a cor dum fiozinho dos cabelos

Que ao passo que eu vinha remoçando
E ficando um tanto mais forte
O seu rostinho de dúvida, um decote
Protegia o meu olhar por inteiro

A experiência de quando eu era feto
Um afeto, um gama, um mantra eterno
Ligando os tempos no umbigo da Terra
Me nutria de longe e também de perto

Me divertia e me bem-castigava
Com a melhor de todas as tabuadas...

Quando orava o terço da matemática, era mãe
E me dava o colo que ensina

Quando contava o terço das cruzes, era irmã
E se colocava em cheque por mim

Quando já não era eu, éramos dois
Sentados no tempo sem fim...